terça-feira, 24 de novembro de 2009

O leitor convidado ou a ciência que professo


A leitora - Picasso


Nesses tempos de pensar e afirmar  a Ciência que eu  professo vi  quanto os gestos públicos podem transformar.
Nesses tempos de "meu pós-pós"  tornou-se lugar comum convidar para as bancas de avaliação apenas sujeitos que " vêem o sol a partir da mesma janela", quer dizer, ausência absoluta de critica, diálogo e crescimento mútuo.
Mas ontem participei de uma banca como leitora convidada, não apenas avaliadora, mas leitora.
Leitor convidado é aquele que  é escolhido  para ler e apreciar ( no melhor sentido do termo)  em primeira mão um percurso criativo materializado.
Foi simplesmente genial poder ser conviva nesse banquete de almas criativas, imaginativas e sensíveis.
Vi  a dignidade do gesto acadêmico, da escuta, do respeito, da parceria, da solidariedade na formação do meu aluno Albert.
O trabalho com o qual ele nos brindou me fez trazer para a superficie do meu ser a CIÊNCIA na qual ACREDITO.
Vi o storytelling em ação e pude relembrar velhos textos ( pude ver que a nossa escrita tem serventia para os processos dos outros- A ESCRITA PÚBLICA É UM GESTO DE GENEROSIDADE) ,

( ...) O Digital Storytelling   busca cerzir, com uma assinatura social, a fissura deixada pelo turbilhão de bytes e bits da técnica. O método refaz o caminho dos inúmeros cientistas sociais que buscam na articulação da pluralidade discursiva evidenciar os múltiplos sentidos do viver e construir memórias em sociedade.
 Valorizar a oralidade dos sujeitos comuns num contexto de extrema individualização e enclausuramento social tornou-se, nos dias de hoje, a condição necessária à manutenção da memória coletiva.
(...) É possível inferir que estas metodologias buscam suturar dialogicamente as falas e depoimentos do sujeito “comum” e refazer, desse modo, as tramas simbólicas vivenciadas, o que pode proporcionar a construção do conhecimento a partir do reconhecimento das memórias partilhadas.

Mineiridades à parte, foi bom demais!
 E como dizia o Raul Seixas em seu prélúdio,

Sonho que se sonha só

É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto é realidade 

Viva a Ciência Etcetera!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ciência é etcetera?


Nesses dias de pensar do que é feito um cientista social, vi que a lista é bem grande, acaba chegando ao famoso "et cetera", afinal a vida também é etcetera como já dizia o Guimarães Rosa.
De uns tempos prá cá, de tempos do “Jeito Capes de ser",  a polifilia - ou a afeição a muitos objetos, inclua-se aí os de estudo, foi banida para o território dos inimigos do saber.
É como se, de um dia a outro, o nosso laboratório nos bastasse ou, cada um no seu quadrado, ou ainda mais chique " chaque un peut regarde le midi à sa porte".
A dança do quadrado virou hit científico!
O pior é que, como as benesses acadêmicas são distribuídas em virtude da obediência cega a esses "novos" ditames, a política científica tem sido: manda que pode e obedece quem tem juízo!
E, de tudo que tenho visto, a ciência e sua reluzente produção tem se tornado cada vez menos etcetera.
Cadê o etcetera da extensão?
-Ah não isso não Qualis (fica) ninguém!
E o etcetera das indagações sociais dos boletins comunitários?
-Qual é o indexador?
E o etcetera da sociedade civil organizada?
E o etcetera da diversidade de olhares?
Transdisciplinaridade, que é um tremendo etcetera, enquadrou-se  na  prisão das ondas temáticas.
Estamos hoje sob o véu da mesmice, da falta de criatividade e dos indicadores que medem os nossos passos à nulle part, visto que abdicamos de nossas questões fundamentais.
“O que fizeste, sultão, de minha alegre menina?”

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Os flandres, os moinhos de vento e a titularidade


Nos últimos dias, tenho me dedicado a encontrar poesia nas folhas de flandres e isso significa para mim um exercício muito difícil de introspecção - pensar mais,falar menos e projetar a seta.
Nesses termos as metáforas tornaram-se a minha companhia de viagem.
Tenho me lembrado muito de uma seção dedicada à guerra em um Museu que conheci em Veneza. As armaduras de prata reluzentes colocadas alí naquela sala me provocaram, na ocasião, horror e fascínio. Confesso que preferi vê-las despossuidas das almas em guerra. Mas como eram lindas aquelas couraças! Vi arte nelas...
Voltando à minha batalha local, penso que ante ao risco provocado pelo sonho primaveril ou ousado de titularidades em terra alheia, vestirei minha couraça de flandres e sairei por ai. Não sei se o risco me colocará sob a proteção do ninho de flandres projetado por EVA ou diante dos moinhos de ventos ainda mais quixotescos.
No momento,o conhecimento (amado meu) me convida a seguir adiante. Qual Quixote amealhei meus pueris instrumentos de guerra e tomo a dignidade por fiel escudeira num tempo em que escudeiros de carne, osso e paixão tornaram-se mais e mais raros.

Espero encontrar no caminho o espírito redivivo de Cervantes entre os meus leitores, dado que ele, como eu, tinha inclinação natural à leitura. Ao ponto de dizer certa feita ser amigo "de ler até os papéis esfarrapados das ruas".

Sigamos pois, nesse percurso que ata em uma poesia inattendue : flandres, moinhos de ventos e titularidades...