quinta-feira, 25 de março de 2010

O conceito de informação ou o recôndito procedimento metodológico da Ciência da Informação



“Eu tentei compreender a costura da vida, me enrolei, pois a linha era muito comprida. Como é que eu vou fazer para desenrolar? Para desenrolar.” (GrupoTambolelê)

Nos 15 últimos anos não tem sido fácil a minha relação com a complexa concepção de informação.
Talvez por uma questão de embocadura ou de proximidade do campo, todos querem porque querem que eu diga, com uma margem de segurança capaz de ajudar a desenovelar uma dissertação ou uma tese, afinal, o que é mesmo informação?
Durante a realização mestrado em Educação tive uma experiência para elucidar o intrincado conceito, no mínimo curiosa. Estava eu lá em terra firmíssima, onde se imagina que todos os conceitos são conhecidos. E qual não foi o meu espanto quando fui indagada sobre o conceito de informação. É o mesmo que conhecimento? É diferente? Quais são os pontos de distinção?
Sei que entrei nesse cipoal lá pelos idos de 1994 e de lá não saí mais.
Comecei por fazer um estudo sistemático sobre essa noção ao longo da história da Ciência da Informação. Fui aos anos 40 e consegui fazer uma sistematização grande o suficiente para saber que apenas identificar um conceito não basta para apreender um problema de pesquisa e visualizá-lo do ponto de vista de uma Ciência nova como a CI.
No final desse “estudo sistemático” realizado na fronteira entre a Educação e a Ciência da Informação eu tinha coletado/tomado conhecimento da existência cerca de 600 concepções sobre informação, porém nenhuma delas se aplicava ao meu problema.
Lição n.1 – Identificar ou sistematizar não é o mesmo que colecionar concepções teóricas de maneira aleatória. Ou seja, cada concepção teórica nasce no interior de um sistema social que nos auxilia na configuração de um modo de pensar, de indagar e de conduzir distintas práticas sociais. Há, então, uma interdependência entre esses elementos.
Lição n.2 – Mais que identificar um conceito capaz de ser a panacéia para os problemas que ainda nem identifiquei, é preciso reconhecer o funcionamento do conceito num quadro teórico/empírico em operação. E preciso compreendê-lo dentro do sistema amplo para o qual ele fornece uma aparente harmonia conceitual. Dito de outro modo: Não dá para retirar um conceito de um arranjo teórico amplo e desejar equilíbrio e reconhecimento pleno.
É claro que a teoria tem por finalidade renovar a inteligibilidade dos objetos. Nesse caso, pela ordem, é preciso saber qual problema e qual objeto.
Lição n.3 – O pensamento científico requer um encadeamento lógico. Não tem essa de primeiro eu penso o conceito e depois o problema. Esse arranjo desordenado tem ocasionado a identificação de bons conceitos para falsos problemas.
Mas qual era mesmo o meu problema?
O problema de base era que eu estava no campo da educação tentando me identificar com a noção de informação que eu havia herdado da Ciência da Informação. Deu para compreender?
Evidentemente esse exercício não tinha como dar certo. Eu queria dar longevidade e perenidade a uma concepção teórica desconsiderando os campos do conhecimento que eu estava manejando. Daí eu só poderia dar com os “burros n’água”.
Lição n.4 – É preciso muito cuidado com os sincretismos teóricos. Os conceitos têm raízes históricas e é preciso ser vigilante acerca desse ponto. Não é possível analisarmos um problema contemporâneo com o “auxílio luxuoso” de um conceito historicamente posicionado sem estabelecer as mediações. Isso é, sem dúvida alguma, torcer o pepino. Não dá para cobrar dos campos científicos ou dos teóricos vinculados a esses campos a análise contemporânea, nem tampouco fazer a transposição de um campo a outro, ou mesmo de um contexto a outro. Palavra essencial: Mediação.
Lição n. 5 – Uma ciência social nova exigirá de seus pensadores um esforço intelectual e ensejará a constituição de uma vanguarda de pensamento. Embora pensemos sobre os ombros daqueles que nos antecederam, é preciso como base na produção de base romper, duvidar, ampliar e construir.
Lição n.6 – Uma escolha teórica revela um engajamento intelectual. Em tempos de ubiqüidade extrema em que bom mesmo é não se comprometer, talvez venha daí o medo de optar. Contudo, se de um lado o engajamento teórico exponha enormemente nossas fragilidades. Por outro, poderemos, a partir desse desafio, contribuir para que o campo avance, sem nos escondermos por trás de falsas certezas.
Lição n.7 – É preciso ser um observador renitente. Isso quer dizer: romper com preconceitos arraigados e ser capaz de observar metodologicamente a insignificância. Afinal, a atividade científica é, sobretudo, a desnaturalização da insignificância. Melhor dizendo: para a ciência nada é insignificante.
Lição n.8 – É preciso ser criterioso nas formas de indagar a realidade, pois não há lugar mais antinatural do que o lugar comum (senso comum sistematizado). Dito de outro modo – tudo é suscetível ao escrutínio da dúvida. Tudo pode ser visto de um ângulo distinto daquele usualmente aceito.
Lição n. 9 - A manipulação de informações é parte da norma científica. Encontrar um conceito razoável de informação não vai retirar a sensação de falta.
Lição n. 10 – Pesquisa social é processo. E como todo processo ganha densidade na medida em que indagamos à realidade e ousamos afirmar com base nos ensablamentos de tramas.