terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A parceria acadêmica e a justiça comum



Causou-me certo espanto  uma notícia recente da condenação de professor-orientador por plágio a trabalho científico de doutorando em Porto Alegre nesse fim de ano.
Em que pesem os os argumentos de parte a parte e o poder do argent que governa todas essas embaraçosas situações,  o mal estar que fica é o lugar em que  metemos a produção e o debate científico - o lugar comum da propriedade civil  privada.
O argumento central escrito nos termos abaixo põem à pensar, senão vejamos:
§ 1ºNão se considera co-autor quem simplesmente auxiliou o autor na produção da obra literária, artística ou científica, revendo-a, atualizando-a, bem como fiscalizando ou dirigindo sua edição ou apresentação por qualquer meio.
Fiquei meio atônita ao constatar que o movimento que me trouxe à pesquisa científica foi, em certa medida, a admiração ao trabalho do mestre e a possbilidade do aprendizado e da parceria acadêmica. Isso me moveu desde sempre. E o que vejo acontecer em tempos outros: Me quedo em nostagia.
Me lembro da Aula do Barthes,  quando de sua entrada no Colégio de França:
" O professor não tem aqui outra atividade senão a de pesquisar e de falar - eu diria prazerosamente de sonhar alto sua pesquisa - não de julgar, de escolher, de promover, de sujeitar-se a um saber dirigido: privilégio, quase ijusto, num momento que o ensino de letras está dilacerado até o cansaõ, entre as pressões da demanda tecnocrática e o desejo revolucionário de seus estudantes. Sem dúvida ensinar, flar simpelsmente, fora de toda a sanção institucional, não constitui uma atividade que seja, por direito pura de qualquer poder: o poder( alibido dominandi) aí está, esmboscado em todo e qualquer discurso, mesmo quando este parte de um lugar fora do poder." ( Barthes, 1978: p. 9-10)

Em tempos de jeito Capes de ser  a Ciência virou coisa de justiça e de propriedade privada que se desenvolve em Institutos públicos.
Me causou espanto também o fato de o orientador ser tido e havido como aquele que SIM-PLES-MEN-TE auxiliou o pesquisador na realização de seu trabalho.
Tornar todos os profissionais do conhecimento ( inclua-se aí mestres, orientadores, companheiros de estrada) potenciais pilhantes formados  na Sorbonne ou na USP, põe em suspeição a razão de nosso fazer científico.
O que deve ficar dessa convivência: a parceria, os royalties, o glamour (numa reprodução de que conhecimento eu não quero, eu quero mesmo é o glamour), ou as famigeradas patentes?
Cada dia que passa, tomo  conecimento de defesas públicas fechadas e dos textos acadêmicos para " inglês ver" em virtude de  restrições contratuais do " patrocinador".
É como se de repente a Universidade começasse a vender pastel de vento, que já não e vende, nem mesmo, na Avenida Paraná. Cadê o recheio? Foi patenteado.

A pesquisa que a Léticia e  eu  realizamos e entregamos hoje à  Sociedade tenta romper com esse embróglio e restituir algo que nos parece essencial: compreeender  a história das coisas, fazer Ciência para além dos dos acontecimentos capturáveis nas nuvens de tags da ciência proprietária Ou,  melhor dizendo, torná-la um acontecimento que dialoga com o curso do campo científico no qual nos inscrevemos.  Nos termos de Barthes,  ajuntar saber e sabor que etimologicamente no latim vem da mesma origem .
Continuo respondendo à minha indignação com ciência e pesquisa que, mesmo não sendo induzida tem dado respostas que nos fazem pensar...
Não sei onde vamos parar com a Ciência 2.0, global e proprietária, mas o que é certo é que o lugar de onde falamos nos dá serenidade afinal, ainda, e espero mesmo que nunca, colocamos no conhecimento que produzimos a placa de vende-se ou aluga-se.
Acredito(amos) como Barthes que:
" Há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas vem em seguida outra, em que se ensina o que não se sabe: isso se chama pesquisa. Vem talvez agora a idade de uma outra experiência, a de desaprender, de deixar trabalhar o remanejamento imprevisível que o esquecimento impõe à sedimentação dos saberes, das culturas, das crenças que atravessamos. Essa experiência tem, creio eu, um nome ilustre e que fora de moda, que ousarei tomar aqui sem complexo, na própria encruzilhada de sua etimologia: Sapientia: nehum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria, e o máximo de sabor possível. " ( Barthes, 1978: p.47)

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